Visto a enorme relevância do setor no país e o seu constante crescimento nos últimos tempos, cada vez mais tem se falado sobre a necessidade de aprimorar a gestão do agronegócio. Um dos pontos mais importantes nesse sentido é, sem dúvida, a questão do controle do custo de produção agrícola.
Os produtores rurais brasileiros enfrentam diversos desafios que afetam a competitividade da produção nacional. Entre os obstáculos que se colocam diante daqueles que investem nesse tipo de empreendimento, estão condições como as longas distâncias, a falta de estrutura e os altos custos da logística.
Para superar esses obstáculos e focar no aumento da produtividade, uma das principais tendências do setor é que a gestão rural se torne cada vez mais profissional. A profissionalização no campo envolve vários fatores: tecnologia, mão de obra capacitada, uma visão mais estratégica do negócio e, consequentemente, o controle de custo de produção agrícola.
Importância do controle de custos e principais erros
Pensando de forma mais ampla, apurar de modo preciso as despesas envolvidas em toda a cadeia é fundamental para o sucesso de empreendimentos de todo tipo e porte. O conhecimento sobre os valores despendidos para produzir permite que se calcule a real lucratividade do negócio.
O que vemos com frequência no setor, porém, são agricultores que não olham para a margem de lucro, pois têm como foco apenas a expansão da produtividade. O problema dessa postura é não levar em conta os diferentes gastos que se tem ao produzir 50 ou 75 sacas por hectare.
No entanto, além de ser uma preocupação, para realmente funcionar, o cálculo do custo de produção agrícola deve ser feito da maneira correta. Apurações incompletas e imprecisas podem comprometer o sucesso da atividade a longo prazo.
Um dos equívocos mais comuns dos gestores nesse sentido é considerar as despesas exclusivamente como reflexo das transações referentes ao desembolso para compras de insumos, folha de pagamento, compra de máquinas, quitação de contas e etc.
Passo a passo da apuração do custo de produção agrícola
Na verdade, o cálculo do custo de produção agrícola não deve ser feito a partir da receita disponível, tampouco da saída de dinheiro, mas, sim, da utilização desses recursos na lavoura.
Existem diferentes métodos de cálculo para apurar o custo de produção (desenvolvidos pela Conab e pelo Cepea, por exemplo). Além disso, ele normalmente vem apresentado no formato de reais por hectare ou reais por saco produzido. Mas também pode ser calculado em sacos por hectare ou sacos por talhão. Este último é mais complexo, por isso, ao calcular pela primeira vez convém considerar os dados da propriedade como um todo.
Independentemente da metodologia, o proprietário rural deverá levar em conta os custos fixos e variáveis. Entre os primeiros, temos todas as despesas administrativas (funcionários, pró-labore, manutenção, escritório). Já entre os variáveis estão itens como insumos, funcionários temporários (safra), transporte, armazenagem e impostos.
Abaixo listamos os principais itens que devem servir de base do cálculo de custo de produção agrícola e como eles devem ser utilizados.
Mão de obra
As despesas de mão de obra incluem, evidentemente, os salários de todos os colaboradores envolvidos na propriedade. É importante notar, porém, que, embora sejam pagos mensalmente eles representam um determinado número de horas esperadas de trabalho.
O que deve ser levado em consideração não são, portanto, os estipêndios, mas, sim o valor da mão de obra. O que interessa aqui é alocar os salários integralmente nas horas realmente trabalhadas.
Insumos
Adubos, defensivos, fertilizantes devem ter seus custos apurados na hora da utilização. Ou seja, no momento no qual deixam de ser estoque e passam a incorporar as lavouras em formação.
Se forem comprados 100 kg de fertilizante, mas utilizados na safra apenas 50 kg, o custo referente a esse insumo deve ser referente a 50% do total. Sendo assim, essa apuração demanda que a propriedade tenha também gerenciamento de estoque.
Máquinas e instalações
Ao adquirir uma máquina em um determinado momento, o produtor não poderá considerar o seu valor total como custo de produção agrícola da safra corrente. Apenas uma alíquota do total investido em equipamentos e instalações na propriedade devem ser considerados nas despesas da safra ou mesmo do ano.
Esses itens geram benefícios ao longo do tempo da sua vida útil, por isso apenas uma fração deverá ser considerada. Ao mesmo tempo, porém, eles também geram custos que também precisam ser considerados: combustível, peças, depreciação, manutenção, ociosidade.
Despesas gerais e outros
Contas de energia elétrica, água e gastos com frete, administração e os encargos também devem ser computados na hora de calcular o custo de produção agrícola. Isso, da mesma forma que os insumos e o combustível, deve ser apurado no momento e na proporção em que forem utilizados.
É importante que o gestor compreenda que o valor do custo de produção deve ser sempre um reflexo direto da realidade econômica dos fatos e não baseados nas suas transações financeiras.
Reunir todos esses elementos e realizar a apuração para se chegar a um valor final não é, definitivamente, uma tarefa simples. Contudo, atualmente, graças à agricultura digital, o empreendedor tem acesso facilitado a uma série de informações detalhadas e integradas. Muitas ferramentas tecnológicas permitem que se controle de forma precisa a utilização de insumos ou de combustível, por exemplo.
Em uma gestão profissional, os dados envolvidos em toda a cadeia produtiva devem servir de base para a tomada de decisão do empreendedor. Conhecer os custos de produção agrícola é essencial para planejar a comercialização dos produtos cultivados e também para fazer planos de crescimento a longo prazo.